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  • Foto do escritorEngendre UFPI

REFLEXÕES SOBRE CORPOS VIOLENTADOS

Atualizado: 30 de jun. de 2022


Nos últimos meses, dias e horas tem sido muito angustiante acompanhar os diferentes casos de violência(s) que vêm acontecendo no Brasil e no estado do Piauí. A morte do indigenista Bruno e do jornalista Dom, crimes atrozes e desumanos, ainda mexem com a gente – pelo menos com as pessoas sensíveis e humanas. Aguardamos o procedimento das investigações para saber quem foram os reais mandantes. Além do questionamento - Quem matou Marielle? Agora temos outro: Quem mandou matar Bruno e Dom? Fora os gritos diários de pessoas anônimas, que são assassinadas todos os dias em vários lugares do Brasil.

Não bastassem esses atos de crueldade que ferem a todos nós de modo indireto, tivemos notícia do caso da menina de 11 anos em situação de violência sexual, que aconteceu no estado do Paraná, e repercutiu em todo o país por envolver a postura questionável da juíza do caso. Aqui no estado do Piauí, recentemente, ocorreram casos também assustadores: uma adolescente foi estuprada e ficou grávida de gêmeos, outra que foi abusada quinze vezes pelo pai durante o ano e os demais casos que não circularam na grande mídia. Essa realidade é mais séria do que imaginamos. Muitas vezes, as famílias das crianças e dos adolescentes em situação de violência sexual não sabem por onde começar, não sabem onde buscar ajuda e tampouco o que fazer. Os conselhos tutelares, guardiões dos direitos da infância e da adolescência, no geral, não tem estruturas e capacitação para oferecer a devida orientação e encaminhamento às instituições que compõe o sistema de garantia dos direitos: “Vai para a justiça”. E aí o que a justiça vai decidir sobre a vida e os corpos das meninas e/ou mulheres vítimas de violência sexual. Então, para onde ir? O que fazer?

Em sua maioria, não há uma rede de apoio e proteção adequados, faltam serviços de assistência social e uma política pública eficaz voltada à violência sexual, sem contar o paulatino questionamento social sobre o direito ao aborto e a dificuldade em realizá-lo de modo legal quando for necessário.

O caso vai adiante com o depoimento da atriz Klara Castanho, que lançou uma carta aberta no dia 26.06.22 relatando que foi violentada, engravidou e decidiu fazer a adoção do bebê. Mas a postura dos profissionais de saúde, que vazaram o caso, demonstram a falta de respeito a sua condição e dor. Diante do caso exposto, a artista passou a ser julgada e humilhada por dois jornalistas e influenciadores que trouxeram o caso à tona. Assim, ela sofreu outras formas de violência. Por que a criança de 11 anos e a atriz foram tão julgadas, expostas e humilhadas quando tudo poderia ter sido evitado? Ações como essas alimentam o patriarcado, o machismo e a violência de gênero sobre a vida e o corpo das mulheres.

Um caso bem peculiar chagou atenção na última quarta-feira (24.07.22), quando a Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou a decisão conhecida como "Roe contra Wade" de 1973, que garantia o direito ao aborto nacionalmente. Meu receio é que uma decisão como essa seja alimentada por fanáticos e possa respigar em outros lugares, inclusive no Brasil. Por esses desdobramentos, cabe a pergunta: Onde fica o respeito e a dignidade aos corpos e à vida das mulheres? Porque são elas as principais rés e não os que estupram, abusam e violentam? Até quando é o corpo da mulher objeto de posse de homens que mandam, massacram, matam e ainda são reconhecidos pela sua força de controle da vida privada e da vida publica de toda a sociedade?

Infelizmente, no Brasil, tem sido assim: as vítimas são vistas como as reais culpadas, quando, na verdade, elas deveriam ser acolhidas, protegidas por meio de ações públicas (psicológica e de acolhimento) e orientadas. Além disso, ainda temos os diferentes casos de homicídios que envolvem, especialmente, jovens negros de periferias, o aumento dos casos de linchamentos, a violência política e policial, os crimes de latrocínios, o aumento das facções criminais, os crimes de feminicídios, a falta de investimento em segurança pública e seus profissionais, o assalto à Educação, o desrespeito aos professores e demais categorias profissionais, dentre outras vexatórias realidade... Ah, sem contar que a pandemia ainda não acabou, que os casos de covid 19 estão em alta e suas variantes continuam em ação e o surgimento da nova varíola.

Afinal, o que o Estado brasileiro tem feito para conter essas realidades?

Como a sociedade civil organizada cria mecanismos de enfrentar as tomadas de posições que só tem retrocedido o que foi conquistado a duras pena?

O que os representantes políticos têm se posicionado e realizado diante dessa realidade?

Até quando vamos assistir a tudo isso?

Você pode até achar que não tem nada a ver, mas, na realidade, nós estamos no meio de tudo isso!




Texto produzido em parceria, por pesquisadores/as doNúcleo de Estudos em Gênero e Desenvolvimento (ENGENDRE-UFPI), do Observatório da Segurança do Piauí /Núcleo de Pesquisas sobre Crianças e Adolescentes (NUPEC-UFPI) e do Observatório da Violência de Teresina (OBTHE).



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